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Ciências

in Ativa Online {http://activa.sapo.pt/criancas/criancas/2013-10-18-matematica-nao-e-um-bicho-de-7-cabecas}, por Bárbara Bettencourt
«É natural querer ajudar os filhos nos trabalhos de casa. Nomeadamente nos de matemática. Mas... o que acontece quando os pais ainda contam pelos dedos? Se faz parte do lote, saiba que não está sozinha. E, sobretudo, que há esperança.»
Matemática não é um bicho de sete cabeças
O desabafo de Margarida Gomes da Silva, mãe de dois rapazes com 11 e 14 anos, podia ser o de todos os pais que detestam matemática: “Quando os meus filhos começaram a fazer contas de dividir com vírgulas, fiquei apreensiva. Depois eles perceberam que eu odiava matemática e começaram a gozar comigo: ‘Ó mãe, qual é a raiz quadrada de 1850?...'”
Se a situação lhe soa familiar, temos boas e más notícias. A boa é que não está sozinha: a crer num estudo britânico, cerca de 30% dos pais admite não confiar nas suas capacidades para ajudar os filhos na matemática. No estudo, feito a 2 mil pais com filhos em idade escolar, só 5% dos progenitores conseguiu responder bem a 10 perguntas elementares de matemática, indicadas para alunos do segundo e terceiro ciclo. Uma delas era esta: qual das seguintes frações não equivale a 1/4: 2/8; 10/40; 4/8 ou 5/20? A resposta certa é 4/8, mas 85% dos pais não conseguiu responder.
A má notícia é que a iliteracia matemática – ou inumeracia – é preocupante. Além de revelar uma incapacidade dos adultos para tarefas tão básicas como calcular trocos ou lidar com as finanças domésticas, pode estar a hipotecar o sucesso escolar e o futuro profissional das crianças.

Crianças + pais que incentivam = mais sucesso escolar
Os pais têm um papel mais importante do que se possa pensar no sucesso escolar dos filhos. Aqueles que participam (não é fazer) nos TPC e falam sobre números com frequência tendem a incentivar melhores competências matemáticas nos filhos. Pelo contrário, os que respondem a uma pergunta do filho com “Oh, eu nunca fui bom a matemática” ou “Não sei, não tenho matemática há 20 anos” passam a imagem da disciplina como pouco apelativa ou até algo a temer. Como resultado, é provável que o rendimento escolar nesta disciplina seja pior. No estudo, comparou-se o desempenho escolar de dois grupos de alunos: um tinha pais envolvidos nas atividades escolares dos filhos mas a qualidade de ensino na escola era fraca. O outro grupo tinha pais desinteressados mas boa qualidade de ensino. Curiosamente, o desempenho dos primeiros foi melhor. Apesar de terem uma qualidade de ensino mais débil, o facto de terem pais atentos aos TPC, que participavam nos eventos escolares e davam a entender que a escola era importante fez a diferença.
1.ª Lição: matemática à nossa volta
“Se quer fazer do seu filho um bom aluno, brinque com ele de forma a espevitar a curiosidade, a concentração, o pensamento abstrato. Abra os brinquedos, para ver como são, mostre-lhe as estrelas, habitue-o aos números desde pequenino”, sugere Ana Rodrigues, Professora na Universidade Exeter.
As dicas das ‘storas’
As professoras Ana Rodrigues e Lurdes Caldeira deixam outras ideias para os pais.
– É importante responsabilizar os filhos para tirarem as dúvidas com o professor e não terem vergonha de fazer perguntas, já que uma dúvida não esclarecida logo pode ter o efeito 'bola de neve';
– Convém os pais terem algum controlo sobre o caderno dos filhos. Se numa aula estiver registado somente o sumário, desenhos e pouco mais, deverão suspeitar de que ele pouco ou nada está a fazer na aula;
– O domínio da língua portuguesa é outro problema, porque os alunos não conseguem interpretar as perguntas dos testes. É importante estimulá-los a ler desde cedo;
– É fundamental convencê-los de que 'querer é poder', e se quiserem conseguem. Dê um reforço positivo a pequenas subidas nas notas do teste e se não for o caso diga “se trabalhares e estiveres mais atento nas aulas de certeza que vais conseguir”;
– Se os filhos já têm mais de 10 anos não é viável esperar que pais avessos a matemática consigam ajudar nos exames. É possível ajudar motivando e dando as condições para eles se concentrarem. Muitos pais já não se lembram do silêncio que é preciso para estudar. Valorize o estudo e o esforço. Diga: “Estudaste tanto, vamos lá beber uma coca-cola.”;
– Por fim, é importante perceber que há crianças mais dotadas para a matemática que outras. Um pai não tem de achar que não foi bom pai porque o filho é mau a matemática. Pode ser excelente em línguas, somos todos diferentes e isso é bom. O que o pai tem de fazer neste caso é ajudá-lo a encontrar um caminho alternativo e motivá-lo a estudar. Se não vier a ser um excelente matemático, pode vir a ser a próxima Maria Callas.