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Biblioteca das
Ciências

- Não foste nada estúpida. Até foste uma excelente economista. O valor das coisas depende dos nossos desejos e necessidades que temos. Isto explica por que razão o valor das coisas varia tanto, embora as coisas fiquem sempre iguais. Por exemplo, tu gostavas muito da tua chucha quando eras pequena, e agora até tens vergonha quando falo nisso.
- Oh! Pai. – disse a Margarida, um pouco corada.
- Isto é assim com os cromos, com o ouro, o petróleo, a comida e tudo o mais. Durante muitos séculos, quando aparecia petróleo num campo, era uma desgraça porque não permitia que se cultivasse nessa terra. Até que um dia alguém inventou uma maneira de usar aquilo para iluminação ou fazer andar os carros, e o valor do petróleo subiu imenso, apesar de o petróleo continuar igualzinho ao que sempre foi. O valor das coisas somos nós que atribuímos. O mesmo cromo que tu querias tanto não interessava nada ao Luís. Por isso ele valia tanto para ti e tão pouco para ele.
- É verdade.
- Mas aposto que o Luís também ficou contentíssimo por ter recebido esses cinco cromos. Como ele não os tinha, faziam-lhe muita falta, embora para ti não valessem nada. Este é o valor da troca. E a troca é um jogo em que os dois lados ganham. Tu ficaste muito contente por trocar com ele, e ele também. Muita gente acha que, na troca, um lado ganha e o outro perde, um explora e o outro é explorado. Mas isso não é verdade. Quem vende gosta de vender e quem compra gosta de comprar. O trabalhador gosta de ter emprego e o patrão precisa de empregados.
Decisão Económica
A Margarida andava tristíssima à procura de um cromo que tinha perdido. Era mesmo aquele que faltava para completar a caderneta que ela e a Madalena estavam a fazer. Demoraria imenso tempo a encontra-lo e até trocara cinco cromos repetidos por ele. Mas agora não se lembrava de onde tinha posto.
Estava a perguntar ao pai se o vira quando apareceu a mãe com o cromo, cheia de marmelada por ter sido deixado dentro do saco do lanche. A Margarida ficou feliz e ia a correr colar o cromo, quando o pai disse:
- Margarida, continuas interessada em saber o que é a economia? É que esse teu cromo pode ajudar-te a compreender algumas das ideias mais importantes.
A mãe percebeu que ia haver conversa e ofereceu-se para limpar o cromo, enquanto a Margarida aprendia essas tais ideias importantes.
O pai perguntou: - Porque é que gostas tanto desse pedacinho de papel? O teu cromo é só um pedacinho de papel, e o desenho nem é muito bonito.
- Mas é o que me falta na coleção! – explicou a Margarida, que não conseguia perceber porque é que os adultos às vezes parecia ser tão limitados.
- Eu sei, mas se cromo não te faltasse, tu não lhe ligavas nenhum. É só porque queres essa coleção completa que esse papelinho tem tanto valor para ti, enquanto outros papeis, muito maiores e muito mais bonitos, não te interessam nada. Essa é a ideia mais importante da economia, que nos levou muitos anos a descobrir. As coisas só valem porque nós achamos que valem. Às coisas que têm valor chamamos «bens».
- Ainda hoje de manhã o Diogo disse que eu era estúpida por dar cinco cromos ao Luís em troca deste. Mas eu só dei os repartidos que já não queria.
O Meu Livro de Economia
O Meu Livro de Economia
João César das Neves
João César das Neves
- Nunca tinha pensado nisso – comentou a Margarida.
- O teu negócio desta manhã ainda outra coisa – continuou o pai. – Os cromos repetidos não valiam nada para ti, enquanto que tu não tinhas muito. O valor depende da relação entre as tuas necessidades e a quantidade de coisas de que precisas para as satisfazer. Os economistas chamam a essa relação «escassez». Se uma coisa não chega para satisfazer as nossas necessidades, essa agora é escassa. Se chega e sobra, então deixa de ser escassa. Se agora te aparecer outro cromo igual ao que tu tanto querias, ele já não vale nada e é um cromo repetido. Percebes?
- Quer dizer que os cromos que tenho a mais não são escassos, é isso?
- Exatamente. E se não são escassos não valem nada. O ar que respiramos é o bem mais necessário à vida, mas não vale nada, porque chega e sobra. O mesmo se passa com a areia da praia, a água da chuva ou os teus cromos repetidos. Lembras-te de ter visto naquele filme como o homem no deserto estava disposto a pagar uma fortuna por um copo de água? Ele precisava de beber, e a água era muito escassa. Sendo escassa tem muito valor. Quando não é escassa, não vale nada.